sábado, 2 de novembro de 2013

Os “novos” e os “velhos” nomes dos transportes em Mauá

Muitos novos nomes apareceram nos transportes de Mauá nos últimos dias, mas alguns acabam mostrando contatos anteriores com os antigos grupos empresariais do ABC.
(Fonte da imagem: Reprodução Blog Ponto de Ônibus)
ADAMO BAZANI – CBN: A situação da circulação de ônibus em Mauá, na Grande São Paulo, foi anormal nesta sexta-feira.
Tanto a VCM – Viação Cidade de Mauá como a Suzantur percorreram as mesmas linhas, o que causou problemas no Terminal Central da Cidade, que, já possuindo pouco espaço para os ônibus, ficou com a circulação mais restrita ainda.
Para os passageiros, o dia foi bastante complicado pelas incertezas e falta de organização, além da sensação de insegurança.
O fato de haver ônibus de duas empresas circulando nas mesmas linhas não representou mais oferta de transportes. Isso porque os ônibus das duas companhias andavam praticamente juntos em diversos momentos.
A confusão no sistema de Mauá já dura duas semanas, depois que o prefeito Donisete Braga em 18 de outubro descredenciou as companhias operadoras Viação Cidade de Mauá, no lote 01, do grupo de Baltazar José de Sousa, e a Leblon Transporte de Passageiros, no lote 02, de Haroldo Issak e Ronaldo Isaak. Os dois irmãos são empresários de ônibus também no Paraná.
Foi contratada emergencialmente a Suzantur. A Suzantur não operava ônibus urbanos. O nome real da empresa que assinou o contrato emergencial é Transportadora Turística Suzano Ltda, registrada em nome de empresários moradores do ABC Paulista: Ângelo Roque Garcia, Claudinei Brogliato, Nádia Fronchini e Sérgio Queiroz Sortori.
A empresa começou a operar em 19 de outubro em cinco linhas da Viação Cidade de Mauá. Os coordenadores da Suzantur na cidade e a maior parte dos funcionários são da Viação Estrela de Mauá, empresa que foi fundada por Baltazar José de Sousa e hoje é de David Barioni Neto e de fundos de participações. A Viação Estrela de Mauá tenta judicialmente retirar a Leblon do lote 02, mas perdeu as últimas ações na Justiça, inclusive a última que apareceu como parte interessada em processo movido pela Prefeitura de Mauá contra a companhia dos empresários paranaenses.
Também tenta entrar no lote 02 a Empresa de Transporte Transmauá Ltda. Da mesma forma que a Viação Estrela de Mauá, a Transmauá foi criada por Baltazar José de Sousa. Hoje é de Eustachio Gonçalves da Silva, de Patos de Minas – MG (onde Baltazar começou a carreira), e de José Garcia Netto, morador da Capital Paulista.
José Garcia Netto, por sua vez, é um dos donos do Banco Caruana S.A. – Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimento. O Caruana financiou ônibus para empresários do ABC Paulista, como o próprio Baltazar José de Sousa e outros do chamado grupo dos empresários mineiros.
Os dados foram obtidos na Junta Comercial de São Paulo e em balancetes públicos.
DECISÕES JURÍDICAS:
Antes mesmo do descredenciamento, a Leblon Transporte de Passageiros conseguiu um mandado de segurança na 5ª Vara Cível de Mauá que tornou nulos os efeitos da decisão administrativa do petista Donisete Braga.
O prefeito já tentou, por duas vezes derrubar a liminar, mas não obteve sucesso. Donisete, no entanto, ameaça tirar a Leblon ainda.
A empresa de origem paranaense da família Isaak ainda possui decisões do STJ – Superior Tribunal de Justiça e do TJ – Tribunal de Justiça de São Paulo que garantem o contrato firmado com a prefeitura em 2010.
Nesta quinta-feira, dia 31 de outubro, a Justiça de Manaus concedeu liminar determinando a suspensão do contrato emergencial com a Suzantur e que a Viação Cidade de Mauá operasse integralmente suas linhas. Isso porque as empresas de Baltazar estão em recuperação judicial para escaparem da falência. O processo é referente a uma companhia de Baltazar em Manaus: Soltur – Solimões Transportes e Turismo Ltda e envolve 33 empresas de Baltazar. Segundo a Justiça de Manaus, a perda das linhas por parte da VCM – Viação Cidade de Mauá prejudicaria as receitas da companhia e consequentemente a recuperação judicial.
O prefeito Donisete Braga não reconheceu a decisão e manteve os ônibus de Garcia e Brogliato, da Suzantur, rodando na cidade. A Viação Cidade de Mauá por sua vez voltou a operar nas cinco linhas.
Os ônibus da Suzantur não entravam no Terminal Itapeva, mas tinham acesso ao Terminal Central de Mauá, nesta sexta-feira.
Os veículos da Suzantur são usados da Oak Tree, empresa que faliu em São Paulo, e foram colocados de forma improvisada em Mauá, mantendo ainda portas à esquerda inoperantes (o que representa risco para os passageiros), catraca no meio do veículo (dificultando a locomoção dentro do ônibus), apenas duas portas no lado direito (tornando mais lento os embarques e desembarques) e a mesma pintura do Consórcio Sudoeste 8, da qual fazia parte a empresa Oak Tree, que também financiou os ônibus.
A Suzantur não tem ônibus articulados e os passageiros reclamam da superlotação. Os ônibus ainda seguem o padrão operacional da SPTrans – São Paulo Transpotes, onde há corredores que permitem o embarque e desembarque pelo lado esquerdo. A maior parte dos veículos não têm acessibilidade.
Um ofício da prefeitura de Mauá chegou na tarde desta sexta-feira à garagem da Viação Cidade de Mauá determinando que a empresa cedesse mais duas linhas à Suzantur: Feital e Parque das Américas.
A prefeitura alega, para o descredenciamento, que Viação Cidade de Mauá e a Leblon Transporte teriam supostamente invadido o sistema de bilhetagem eletrônica.
A administração Donisete Braga multou em R$ 12,2 milhões a Leblon e em R$ 8,4 milhões a Viação Cidade de Mauá. Donisete as tornou inidôneas.
O prefeito diz que o objetivo do descredenciamento é retomar o controle dos transportes em Mauá e pretende fazer uma nova licitação em novembro. Ele negou perseguição às empresas.
Donisete, em entrevista coletiva, disse que a frota de Mauá está sucateada.
A Leblon rebateu em nota: “Todos nossos ônibus foram trazidos zero quilômetro para Mauá, são acessíveis, portanto, têm menos de três anos de uso. A própria prefeitura aprovou 100% da frota em inspeções. A empresa teve toda a frota aprovada no Programa Despoluir, que mede as emissões de poluentes dos veículos, da CNT- Confederação Nacional dos Transportes. Os ônibus também são dotados de computador de bordo que auxiliam e monitoram a dirigibilidade, além de câmeras de acesso e monitores de TV”.
Segundo a Viação Cidade de Mauá, 30 ônibus zero quilômetro e acessíveis foram colocados em circulação em 2011 e havia, antes de todo este estado na cidade, a perspectiva da chegada de mais 40 ônibus novos.
A sindicância que apontou as supostas invasões é contestada pela Justiça.
Em 27 de junho de 2013, a Corregedora Geral de Mauá, Thais de Almeida Miana, deu parecer acatando os argumentos da Leblon que alegou que as supostas invasões foram consultas que a própria prefeitura treinou e autorizou as empresas. Ela apontou para a necessidade de uma nova sindicância pelo fato de a atual ser considerada “inconclusiva” e ter poucos elementos técnicos e mais testemunhais subjetivos. Donisete Braga ignorou o parecer.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.


Por: Daniel Santana

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