Portadores de necessidades especiais em Mauá, na Grande São Paulo, se dizem prejudicados com as operações da Suzantur, empresa contratada sem licitação pelo prefeito Donisete Braga. Ônibus sem equipamentos de acessibilidade e com funcionários despreparados: passageiros perderam consultas, sessões de fisioterapia e de outros tratamentos.
|
(Fonte da imagem: Adamo Bazani) |
ADAMO BAZANI – CBN: A colocação da empresa de ônibus Suzantur no município de Mauá, na Grande São Paulo, pela prefeitura tem causado problemas na locomoção das pessoas na cidade, principalmente para quem é portador de necessidades especiais.
Quem afirma são os próprios passageiros que dependem das linhas do lote 02 da cidade, onde operava a Leblon Transporte de Passageiros, retirada por uma decisão da prefeitura. A Leblon tenta reverter na justiça o ato do prefeito Donisete Braga e do secretário de mobilidade urbana, Paulo Eugênio Pereira.
“Tem sido horrível usar os ônibus da Suzantur. Eles não têm elevadores ou rampas. Quando têm, não funcionam ou estão do lado errado. (alguns ônibus têm porta à esquerda)” – disse Rosilene de Souza Santos, presidente da Aponem- Associação dos Portadores de Necessidades Especiais e Mães, entidade que busca a inclusão de pessoas com deficiência, com sede no Jardim Luzitano, periferia de Mauá.
São vários os relatos de pessoas que perderam sessões de fisioterapia e de outros tratamentos de saúde por causa da falta de acessibilidade dos ônibus da Suzantur.
“Preciso fazer fisioterapia no centro de Mauá. Os ônibus da Suzantur não possuem elevadores ou qualquer equipamento. Já perdi quatro sessões de fisioterapia que são essenciais para minha saúde” – relatou Vanildo de Lira, que depende de cadeira de rodas, e mora no Jardim Luzitano.
Não é somente a falta de ônibus adequados da Suzantur que tem prejudicado os portadores de necessidades especiais em Mauá. Os passageiros reclamam do atendimento dos funcionários da empresa e do despreparo para manusear os poucos equipamentos que podem permitir acessibilidade.
Maria da Silva Sobral mora no Jardim Zaíra V e disse que se sente presa em casa e evita usar os ônibus da empresa colocada pelo prefeito de Mauá, Donisete Braga, Suzantur.
“Quando a Leblon operava era muito melhor. Os ônibus passavam no horário, todos tinham elevadores e os motoristas eram educados. Os motoristas e cobradores da Suzantur não sabem atender o deficiente” – reclamou.
Dolores Silva de Carvalho, que mora na região do Jardim Hélida, também reclama da falta de preparo dos motoristas.
Ela tem como opção usar os ônibus da Viação Cidade de Mauá, outra empresa do município, mas se queixa da falta de educação dos funcionários.
“Quando os ônibus têm elevadores, são mal conservados, todos quebrados. Os motoristas não param e não nos ajudam. Viação Cidade de Mauá e Suzantur são complicadas. A única empresa que atendia melhor o deficiente que era a Leblon, o prefeito tirou” – disse indignada.
Mauá não é uma cidade acessível e está na contramão de todas as políticas de inclusão. O portador de deficiência não deve somente ir de casa para o hospital, mas ter uma vida normal: trabalhar, estudar, passear e se divertir.
Quem opina e sente as dificuldades disso na pele é Clauber Henrique de Souza que há cinco anos precisa usar cadeira de rodas. Ele pratica esportes e tenta ter acesso aos direitos básicos de qualquer cidadão, mas confessa que é difícil.
“É uma batalha todo o dia. Além de os ônibus não terem equipamentos, a cidade não oferece condições para o portador de necessidade especial. Não é só em Mauá, o deficiente não é bem atendido de uma maneira geral, mas aqui na cidade, o terminal de ônibus não tem a menor condição para receber quem possui deficiência” – conta Cláuber que faz aulas de judô em Santo André. Ele mora no Parque São Vicente, outro bairro de Mauá, e prefere se deslocar com a cadeira de rodas nas ruas e calçadas esburacadas de Mauá para o Capuava, também na cidade, para se livrar do terminal central da cidade e da falta de condição dos atuais ônibus que prestam serviços no município.
A condição do asfalto e do calçamento em Mauá é considerado um problema crônico pelos moradores da cidade.
Em 2012, a empresa Scamatti & Seller Infraestrutura recebeu R$ 22 milhões para o recapeamento de 60 quilômetros de ruas e avenidas em Mauá, mas os problemas voltaram inclusive nas vias onde houve intervenções.
Além da falta de condições dos ônibus, principalmente da Suzantur, a população se queixa da falta de transporte especial.
A mãe de Cláuber, Iraci Alves de Sousa, diz que o serviço de atendimento especial contratato pela prefeitura de Mauá é falho.
“Não tem van adaptada. É perua comum e os motoristas não ajudam sequer colocar as pessoas com cadeira de rodas (dentro do veículo). Vou entrar em juízo contra isso” – disse.
Os maus serviços do transporte especial também fizeram com que o morador Josafá Gomes da Silva, perdesse consultas na AACD – Associação de Assistência à Criança Deficiente.
“Além de prejudicar o tratamento, se faltarmos muito nas consultas, perdemos as vagas que são limitadas e temos tanto trabalho para conseguir” – reclama.
Ele disse que ao ver os ônibus da Suzantur nem pensa mais em se deslocar pela cidade.
ASSISTA ÀS ENTREVISTAS:
Empresa que foi retirada de Mauá pela prefeitura, Leblon, tinha ônibus acessíveis segundo os passageiros e fazia treinamentos de motoristas, cobradores e fiscais para o atendimento a pessoas portadoras de deficiências físicas e visuais. Funcionários, em um dos treinamentos, sentiam as dificuldades nos transportes por quem possui mobilidade reduzida.
|
(Fonte da imagem: Diego Vieira - Adamo Bazani) |
CONTRATAÇÃO DA SUZANTUR MARCADA POR DÚVIDAS E SUSPEITAS:
Os poucos ônibus da Suzantur com acessibilidade têm rampas em portas inoperantes, do lado esquerdo, que não são adequadas aos padrões de Mauá. Parte da frota é usada de São Paulo e de empresários que tiveram relações com Baltazar José de Sousa, que monopolizou os serviços por mais de 30 anos. Despreparo de motoristas e quebras constantes dos ônibus são outras queixas por parte da população em relação à empresa contratada pelo prefeito Donisete Braga.
|
(Fonte da imagem: Daniel Santana - Busologia Total) |
A Suzantur foi contratada pela administração do prefeito Donisete Braga que descredenciou a Viação Cidade de Mauá e a Leblon Transporte de Passageiros. O prefeito e o secretário de mobilidade urbana, Paulo Eugênio Pereira, dizem que as duas empresas consultaram sem autorização dados do sistema de bilhetagem eletrônica da cidade. Mas a versão não é consenso nem na prefeitura.
A corregedora-geral do município, Thais de Almeida Miana, em parecer oficial de 27 de junho de 2013, verificou que as consultas ao sistema de bilhetagem foram autorizadas pela prefeitura de Mauá, que deu treinamento às empresas de ônibus para isso. Ela recomendou a realização de uma nova sindicância, como mais elementos técnicos. Mas a recomendação foi ignorada pelo prefeito Donisete Braga e sua equipe.
Usando a tribuna da Câmara Municipal de Mauá, em 3 de dezembro, Rafael Rodrigues, do grupo social “Política Sim, Patifaria Não” mostrou documentos que levantam a suspeita de que a entrada da Suzantur seria uma manobra para o restabelecimento de forma velada do monopólio dos transportes em Mauá para o grupo de empresários ligados a Baltazar José de Sousa, dono da Viação Cidade de Mauá, EAOSA –Empresa Auto Ônibus Santo André, Viação Ribeirão Pires, EUSA – Empresa Urbana Santo André e Viação São Camilo.
A Suzantur, segundo os documentos apresentados na Câmara, teria ligações com controladores do Banco Caruana, que financiou ônibus para Baltazar José de Sousa. Os funcionários de Baltazar tinham um cartão de crédito do Caruana com desconto em folha de pagamento.
Chamada às pressas e sem licitação, a Suzantur opera com ônibus usados que antes circulavam pela empresa Oak Tree, que faliu em São Paulo e ainda mantém as cores e características do Consórcio Sudoeste da Capital Paulista, como portas à esquerda que ficam desativadas em Mauá, e apenas uma porta para embarque e outra para desembarque. A Suzantur também usa micro-ônibus que não servem mais para o sistema de Diadema, também no ABC, que circulavam pela MobiBrasil (outra empresa que foi convidada por Donisete), e ônibus midi (micrão) dispensados do sistema da cidade do Rio de Janeiro.
Também são aproveitados pela Suzantur ônibus usados da Viação Piracicabana do Litoral, empresa pertencente ao fundador da Gol Linhas Aéreas, Constantino Oliveira, líder do chamado grupo dos empresários de ônibus mineiros, do qual Baltazar faz parte. Há também ônibus usados da ETURSA – Empresa de Transportes Urbanos Rodoviários de Santo André, de Ronan Maria Pinto. Ronan é dono do jornal local Diário do Grande ABC, foi sócio e é parente de Baltazar.
A Suzantur também opera com alguns ônibus que circularam pela Viação Estrela de Mauá. A Viação Estrela de Mauá foi fundada por Baltazar José de Sousa para disputar contra a Leblon a licitação dos transportes, mas perdeu. Até o ano passado, quando a interferência da prefeitura de Mauá não era tão grande nas disputas judiciais entre empresas, a Viação Estrela de Mauá tentava tirar a Leblon de circulação.
Hoje a empresa é de David Barioni Neto que foi executivo de Constantino de Oliveira, do grupo dos mineiros, na Gol Linhas Aéreas.
A Viação Estrela de Mauá ocupou a garagem de Baltazar, chamada Princesinha, no Jardim Zaíra IV. Hoje os ônibus que estão na Suzantur, têm sido transferidos para esta mesma garagem.
A Leblon Transporte pertence a Haroldo Isaak e Ronaldo Isaak, empresários de ônibus que operam em Mandirituba, Fazenda Rio Grande e Curitiba, no Paraná.
A vereadora Sandra Regina Vieira disse que a pressa da prefeitura em contratar a Suzantur chamou atenção.
“Foi de forma muito abrupta. Enviamos requerimentos pedindo esclarecimentos. Não houve diálogo por parte da prefeitura antes destas mudanças. Fomos pegos de surpresa. Você pode verificar aqui mesmo que a população aprova o serviço da Leblon. Por que tirou? Ainda há muitas dúvidas” – comentou a vereadora.
RESPOSTA:
Em nota à reportagem, a prefeitura de Mauá reconhece os problemas da Suzantur e diz que a empresa ainda está treinando os funcionários, apesar de ter sido chamada em outubro.
“A Suzantur está operando com 85 ônibus na cidade. Desses, 40 veículos não possuem elevador. A Suzantur informa que já comprou elevadores para instalar nos ônibus, e esse processo de adaptação deve estar concluído em cerca de 30 dias. Sobre o despreparo dos profissionais, a empresa está realizando treinamento para corrigir eventuais falhas no atendimento a portadores de necessidades especiais. Lembramos que a Suzantur circula em Mauá com contrato emergencial.” – de acordo com a íntegra da nota.
A prefeitura disse que quer fazer uma licitação nos transportes.
O certame foi anunciado para dezembro, depois janeiro e agora não tem data para ocorrer.
O executivo quer criar uma gerenciadora do sistema chamada Mauá-Trans.
“O portador de necessidade especial não pode ficar todo este tempo esperando. Ele precisa ter uma vida normal, não pode perder consultas, tratamentos e nem o direito de viver, trabalhar, estudar, passear. É muito tempo, fora o que se passou até agora e nada foi feito” – se queixa Rosilene de Souza Santos, presidente da Aponem – Associação dos Portadores de Necessidades Especiais e Mães, de Mauá.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.
Por: Daniel Santana